Desde 2002, o Brasil tem vivenciado assustadores episódios de ataques em escolas cometidos em sua maioria por ex-alunos. O que até há alguns anos atrás não existia, ou visto apenas em países mais distantes e inspirando roteiros de filmes, o assassinato em massa de crianças e adolescente dentro do ambiente de aprendizado se tornou um fenômeno que já vitimou dezenas de vidas tão jovens.
O mais recente ataque que acometeu Escola Estadual Raul Brasil, no último dia 13, na cidade de Suzano (SP), deflagra a urgência em tomar medidas urgentes e assertivas que evitem tragédias como essa que matou oito pessoas e feriu outras onze. Ações de bullying, de discriminação e a pouca prática do exercício do diálogo na resolução de conflitos, são algumas das causas apontadas por especialistas que debatem a educação e a escola como um ambiente que deve promover o respeito e dignidade humana.
Para o primeiro semestre de 2019, o Projeto Contexto – Educação; Gênero; Emancipação escolheu o tema: “Educação Contextualizada para uma Cultura de Paz” para trabalhar junto aos professores e alunas/os pertencentes à comunidade escolar do projeto. Nessa primeira fase, 1.520 docentes de 20 (vinte) municípios participam das formações que iniciaram em Fevereiro e se encerram em Abril. O objetivo é levar para esses educadores, conteúdos e atividades com temáticas que podem ser aplicadas pedagogicamente em cada uma de suas disciplinas.
A iniciativa, co-financiada pela União Europeia, tem como realizadora a Plataforma Marco Zero composta por organizações nacionais e internacionais com vasta experiência nos campos social, ambiental e educacional: We World ONLUS Itália, We World Brasil, ACACE (Associação de Cooperação Agrícola do Estado do Ceará), Cáritas Diocesana de Crateús, Escola Família Agrícola Dom Fragoso, ESPLAR – Centro de pesquisa e assessoria, Instituto Maria da Penha e Pastoral do Menor Nordeste I.
Colaboram diretamente com a assessoria dos módulos formativos um total de 07 (sete) educadores/as, trabalhando os seguintes conteúdos: Violência simbólica direta e suas implicações; violência intraescolar, causas e consequências; o papel social da escola e dos/as educadores/as na promoção de uma cultura de paz dentro da escola e na comunidade; a comunicação não-violenta e seus conceitos e princípios; educação emancipatória contextualizada para uma cultura de paz no semiárido;
a mediação de conflitos como metodologia para a qualificar as relações intraescolar e a superação de conflitos no cotidiano escolar e comunitário.
Segundo Paulo Cesar Oliveira, da Cáritas Diocesana de Crateús, os professores apontam diversos desafios para lidar com situações de conflito no ambiente escolar como, por exemplo: situações vulnerabilidade social ou desestruturação familiar; ausência de políticas públicas eficazes voltadas a superação da violência e inexistência de uma rede de proteção eficiente para crianças, adolescentes e educadores/as.
A pastoral do Menor também é uma das instituições que está à frente desse módulo e que há anos vem atuando na garantia de uma sociedade mais pacífica, “Nós, da Pastoral, buscamos junto com a comunidade escolar a construção de uma cultura de paz por meio da utilização das metodologias das práticas restaurativas – círculo de resolução de conflito e a mediação escolar que valorizam a escuta empática e o diálogo na sala de aula seja através dos alunos ou dos professores para a redução da violência que muitas das vezes é originado por falta do diálogo. Desse modo, as práticas vem contribuir para a oportunidade de participação e reflexão de cada ação e de uma comunicação menos agressiva e mais focada na empatia”, explica Carmen Nobre, técnica pedagoga da Pastoral do Menor.