Exibição do longa-metragem, seguida de debate com o diretor, acontece nesta quinta-feira, dia 30 de abril, a partir de 19h.
Paulo Betti, ator, autor e diretor brasileiro, participa, nesta quinta-feira, dia 30 de abril, do projeto Cine Diálogos Virtuais, promovido pelo curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz. Seu longa-metragem, “A Fera na Selva” (2019), dirigido com Eliane Giardini e Lauro Escorel, será exibido pela TV Unifor, a partir de 19h. Após a sessão, às 20h30, acontece o debate virtual com o diretor, mediado pelo professor Márcio Câmara, responsável pelo som do filme. Haverá, ainda, transmissão aberta ao público pelos canais da universidade no Facebook e no Youtube.
“Você acredita que alguma coisa extraordinária vai acontecer na sua vida?” — a questão contempla a narrativa do longa-metragem “A Fera na Selva” (2019), baseado na obra homônima do escritor norte-americano Henry James (1843-1916). No filme, o professor de português João (Paulo Betti) é atormentado pela crença no extraordinário. Maria (Eliane Giardini), professora de literatura inglesa, aceita esperar com ele. Juntos, vivem uma vida inteira percorrendo um caminho à espera da fera à solta na selva.
A história já havia sido visitada por Paulo Betti e Eliane Giardini no teatro, há 30 anos. O filme parte da adaptação teatral feita nos anos 1990 por Luís Artur Nunes, professor, diretor, escritor e autor de teatro. A obra foi, então, traduzida da literatura para o teatro e do teatro para o cinema. A trama de “A Fera na Selva” (2019) encanta pela delicadeza estética, traduzindo sentimentos nos cenários, na palavra, no som e nas expressões.
No encontro desta quinta-feira (30) do Cine Diálogos Virtuais, Paulo Betti falará mais sobre o filme, a adaptação literária, a sonoridade e a atuação na obra. Na conversa transcrita a seguir, o ator, autor e diretor brasileiro nos concedeu uma prévia do debate. Confira.
O que é o “A Fera na Selva” e por que contar essa história?
“A Fera na Selva” é um filme sobre o amor e sobre a incapacidade de amar. A história é muito poderosa. Ela nos chacoalha. Ela nos faz refletir sobre a necessidade de viver o momento presente, que é a coisa mais importante. É o aqui e o agora. O lugar mais importante que existe, o melhor lugar do mundo, é o aqui e agora.
O senhor e a atriz Eliane Giardini já haviam encenado a história no teatro. No filme, os personagens têm um reencontro e vocês também, de certa forma. Como foi isso?
Há 30 anos nós fizemos a peça de teatro, que era uma adaptação desse livro, “A Fera na Selva”. Depois de tanto tempo, e já numa outra fase de nossas vidas, foi muito interessante contar essa história e fazer o filme juntos. Mais interessante ainda pelo fato de termos feito as filmagens em Sorocaba [interior de São Paulo], que é o lugar onde nós nos encontramos pela primeira vez. Então, eu e Eliane, além de estarmos revisitando nossa própria relação, na medida em que há muitos componentes na história que aproxima essa nossa história pessoal, estávamos também revisitando os lugares onde tínhamos frequentado. A grande maioria das pessoas que aparecem no filme são das nossas famílias. Portanto, deu um ingrediente emocional muito potencializado. Pelo fato de nós termos feito a peça tanto tempo, termos tido uma relação durante 25 anos de casados e, também, de estarmos filmando no lugar onde nos conhecemos e onde estão as pessoas de nossas famílias.
O filme é baseado na obra do escritor Henry James. A história sai da literatura, parte para o teatro e, agora, para o cinema. Como foi o processo de adaptação de uma linguagem para a outra?
A gente partiu da adaptação teatral, que foi feita pelo Luís Artur Nunes, professor, diretor, escritor, autor de teatro. A partir da tradução do Fernando Sabino, ele fez a adaptação da novela para o teatro. Aí, então, eu fiz diversos tratamentos dessa adaptação teatral para o cinema. Eu contei com a colaboração da Eliane [Giardini], do Rafael Romão e procurei dar muita atenção à questão da fidelidade. Claro, teria que transformar isso na perspectiva de filmar com dois atores. Eu pensei, eu e Eliane. Tem outros atores, mas nós não teríamos, por exemplo, eu e Eliane mais novos e depois eu e Eliane mais velhos. Não, eu pensei que eu e Eliane faríamos os papéis nas suas diversas idades. Então, isso já foi condicionando no processo da adaptação.
Eu também procurei ser fiel ao Henry James no aspecto… Toda adaptação, toda tradução, sempre se trata de traições, né? Evidentemente que a gente não é absolutamente fiel aos autores, na medida que a gente tá interferindo. Mas eu quis ser fiel no aspecto de conservar, por exemplo, o narrador. Em alguns momentos, eu pensei em não usar o narrador, mas depois achei que era muito importante. O narrador reitera um pouco aquilo que o público já está percebendo. Ele fala de novo, ele explica, ele bate de novo na mesma tecla. Então, eu tenho o narrador do filme, que pode ser também um objeto de discussão.
Uma adaptação que eu fiz, que é evidente, é a dos lugares. É uma novela inglesa, que na real está sendo filmada em Sorocaba. Mas eu procurei dar um aspecto de sobriedade, vamos dizer assim. Eu usei a arquitetura de Sorocaba, que teve uma época que a cidade foi considerada a Manchester [cidade do Reino Unido, no noroeste da Inglaterra] paulista. Então, tem lugares com tijolinhos, construções com tijolinhos aparentes. Também deixei no ar mais ou menos a época. Na nossa cabeça, se passa de 80 a 2005, mas não deixamos isso muito claro para o público. Procuramos uma certa neutralidade em relação à época.
A gente procurou adaptar a novela do Henry James reforçando a palavra. Eu poderia usar muito menos palavra do que se usa. Esse filme é bastante falado, porque o texto é muito bonito. As palavras que o autor usa para contar essa história são muito poderosas. Eu achei que não deveria abrir mão dessas palavras.
Qual o conselho que o senhor costuma dar para aqueles que estão começando no mundo do cinema?
Acho que o mesmo conselho para qualquer um, no teatro, no cinema, é tomar notas. É muito importante você anotar, fazer anotações, porque as anotações acabarão servindo. Quando você precisar delas, elas estarão lá, dando noção clara para você daquilo que você está ouvindo. Porque, se você não tomar nota, você vai esquecer. É um conselho simples: tome nota.
Serviço
Cine Diálogos Virtuais – curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza
Premiere do Filme “A Fera na Selva”
Debate com Paulo Betti
30 de abril de 2020 (quinta-feira), às 19h
Transmissão aberta ao público