Por Celso Ferrer, vice-presidente de Operações da GOL Linhas Aéreas
Estima-se que entre 50% e 70% da população, com variações semanais dentro dessa margem, se manteve e permanece em distanciamento social desde que a quarentena pelo coronavírus (Covid-19) foi instituída no Brasil, em meados de março. São pessoas cuja atividade laboral ou estilo de vida permitem esse isolamento em casa, espaço que assume temporariamente outros papéis, como home office, academia de ginástica, cozinha-escola, sala de cinema, cenário para lives e toda a sorte de afazeres propagados em redes sociais. Mas há setores que não podem parar por completo, dada a relevância dos serviços que prestam ao país. A aviação é um deles, ainda que hoje esteja com uma malha essencial de voos.
Quando olhamos pela janela e vemos as ruas totalmente desertas, surge a sensação de que o mundo todo, como uma cena de filme sobre uma catástrofe natural ou contágio virulento, ficou amedrontado e estático, e que nada acontece. É só impressão. Nos férteis rincões brasileiros, as colheitas que abastecem a agroindústria, os supermercados e as feiras livres continuam sendo feitas no tempo certo, para que a população não fique desprovida de alimentos. A Ibovespa segue medindo diariamente o desempenho das ações de grandes empresas, e num ritmo mais frenético do que antes da pandemia. Ainda que em horários alternativos e encurtados, os bancos prosseguem abrindo suas portas, privilegiando clientes da terceira idade tão acostumamos a essa habitual visita, já que são menos adeptos dos aplicativos e outras soluções digitais. Todas essas práticas exigem uma presença fundamental, a do ser humano.
Surge uma curiosidade: quem são os poucos transeuntes que vemos andar a passos apressados nas ruas? Pode ser o funcionário a caminho da farmácia em que trabalha – afinal, ela se mantém aberta, fornecendo medicamentos para centenas de outros males. Pode ser o assistente do supermercado rumo ao lar, voltando de sua missão noturna de manter as prateleiras fornidas de produtos frescos, para a satisfação dos consumidores. Pode ser um frentista de posto de gasolina em horário de almoço – diferentemente dos seus colegas, ele não pôde entrar em férias coletivas, quem sabe? Pode ainda ser um médico-cirurgião, especialidade que não permite atendimento à distância, com destino ao hospital para mais uma jornada atribulada de cirurgias. Mais do que insuspeitos, esses lugares são vitais, continuam pulsando para a preservação da saúde e da vida em sociedade.
Se em terra a Covid-19 é incapaz de fazer os relógios pararem e impõe a todos, dentro ou fora de casa, novas condutas de segurança, higiene e relacionamento interpessoal, o mesmo se dá no ar. Para se adequar à nova demanda durante a crise, bem mais baixa, a GOL Linhas Aéreas reduziu temporariamente de 800 para 50 seus voos diários, uma medida para atender somente às capitais nacionais. Mesmo restritas, quanta diferença essas operações podem fazer na vida dos brasileiros. Hoje, viaja quem precisa viajar. Esses voos têm transportado profissionais de saúde em combate ao coronavírus Brasil afora, pessoas que estão indo visitar ou levar remédios para um parente, órgãos humanos destinados a transplantes, equipamentos hospitalares e EPIs (equipamentos de proteção individual).
Com os poucos trechos mantidos, a rotina de quem trabalha na linha de frente do setor aéreo mudou radicalmente na quarentena. Se pilotos e comissários, diz-se, não dormem em casa, alguns hoje chegam a ficar quase todas as noites. Na GOL, entre seus 2 mil pilotos e copilotos, há 412 em LNRv (licença não remunerada voluntária). Dos 3 mil comissários de bordo, 710 também estão por ora afastados.
O pânico da contaminação foi controlado nos aeroportos: os Clientes hoje chegam informados sobre as formas de contágio e meios de prevenção. Existe ainda, entre os Colaboradores, uma confiança maior em lidar com diferentes situações, sejam as questões da preservação da saúde em terra, pelos aeroviários, ou a bordo, pela tripulação. A oferta de EPIs, como máscaras e luvas, além de álcool em gel, foi institucionalizada tanto nas cabines quanto nas bases da Companhia que estão em funcionamento, embora alguns comissários prefiram usar suas máscaras pessoais, confeccionadas de tecido e laváveis.
Seja no check-in, no embarque ou durante o voo, mais cuidados estão sendo tomados para garantir o bem-estar de todos: ninguém toca o cartão de embarque e o documento dos passageiros, assim como a distância mínima recomendada é levada em conta em todos esses casos. Para tal, há sempre um Colaborador encarregado de verificar o cumprimento dessas medidas. Assim, com segurança, valor número 1 e inquestionável dentro da GOL, presencia-se o prazer de trabalhar e de voar, de prestar esse serviço tão essencial ao país. O serviço de bordo também ficou mais simples, com menos interações, respeitando o distanciamento e todas as medidas de prevenção.
Aeroporto vazio, vale ressaltar, não é motivo para distrações. Pelo contrário, o cuidado precisa ser redobrado nesse período. Nossos Colaboradores do front estão mais do que nunca atentos a todas as movimentações. Ações como essa e o esforço contínuo daqueles que não podem parar provam que o profissionalismo e a coragem de alguns são indispensáveis para que muitos outros permaneçam tranquilos e seguros até que tudo passe. O Brasil agradece.