Pela pouca maquiagem, figurino minimalista e certa dificuldade de se manter sobre o salto, o espectador vai perceber logo de cara que são homens interpretando personagens femininas. Não é por falta de apuro estético, é de propósito. Assim é definida a comédia “Amigas, Pero No Mucho”, que ganhou nova montagem este ano e está em turnê nacional desde julho. Em Fortaleza, o espetáculo terá apresentação única no dia 22 de agosto (sábado), às 21h30, no Teatro RioMar Fortaleza.
A encenação, um texto da paulista Celia Forte, não tem a intenção de ser realista. Não é um drama, é uma comédia de costumes, que tem a direção de José Possi Neto, traz André Gonçalves no papel principal, que junto com os atores baianos Lucio Tranchesi, Widoto Áquila e Agnaldo Lopes, apresentam as amigas Débora, Fram, Sara e Olívia respectivamente.
SOBRE A NOVA MONTAGEM
Para Possi Neto, também é a oportunidade de ver surgir uma nova versão do trabalho, que está na quarta montagem sob sua direção. Desde a estreia, em 2010, a peça já passou por teatros de São Paulo e do Rio de Janeiro, sempre com diferentes atores se revezando no palco a cada temporada. A única coisa que não muda é o texto escrito pela dramaturga Celia Regina Forte. A história mostra o encontro de quatro amigas, entre 35 e 55 anos, que destilam veneno e lavam roupa suja, ao mesmo tempo em que revelam delicadezas e expõem suas fragilidades. Mas, voltamos a lembrar, o tempo todo está claro que são homens vestindo a carapuça. “Os atores não se obrigam nem a fazer voz de mulher, a não ser quando a própria situação pede um falsete. O mais importante é o universo feminino”, reitera o diretor.
Vamos às apresentações. Lá estão Fram (Lúcio Tranchesi), ninfomaníaca que gosta de meditação e tem uns tiques nervosos. Débora (André Gonçalves) é a divorciada, inteligente e irônica, embora ainda sonhe com o príncipe encantado. Sara (Widoto Áquila) é a executiva reservada e bem-sucedida que fuma descontroladamente e não tem papas na língua. E Olívia (Agnaldo Lopes) é a ex-rica desiludida que hoje dirige uma van escolar para sustentar marido e filhos.
SALTOS E INTRIGAS
Lúcio Tranchesi, que recentemente interpretou um travesti na peça Salmo 91, fala de sua Fram. “Ela é a mais velha e a mais louca de todas, é uma delícia. Apesar da idade, tem uma feminilidade muito evidente. E fantasia muito as intrigas”, resume. “A primeira vez que li o texto, confesso que fiquei um pouco preocupado, não achei verossímil. Mas percebi que conheço mulheres assim. Sempre tem aquela inveja da mais jovem, da mais rica, da mais bonita”, avalia o ator.
Widoto Áquila interpreta justamente essa figura invejada que, além de tudo, ainda é a mais alta – o ator tem 1,84 e ganha mais uns 15 cm depois de subir num salto agulha. Mas tem um detalhe: Sara carrega a cruz de ser filha de um político corrupto. “O calcanhar de Aquiles dela é a história do pai, mas ela garante que o dinheiro dela não é sujo”, defende o ator. A moça também carrega o ímpeto dos mais jovens: “Ela é a sincera, que esfrega na cara. É bem o retrato dessa geração que qualquer coisa aperta o botão do f…!”, completa.
Para se colocar no lugar de Olívia, Agnaldo Lopes só fez uma exigência. “Só pedi que o sapato não fosse muito alto porque nunca andei de salto”, revela o ator, habituado a encarnar personagens másculos como cangaceiros e delegados. Para fazer sua primeira mulher, ele conta que pescou elementos da televisão e das ruas, principalmente no que diz respeito ao gestual. Mas a surpresa maior foi em relação ao comportamento. “É claro que o texto teatral é pintado com cores berrantes, mas mesmo assim fiquei intrigada (sic) com esse hábito de destilar veneno. É assim mesmo?”, questiona o ator, deixando escapar um adjetivo no feminino. “Tá vendo como pega?”, brinca.
HAJA VENTILADOR!
Completa o quarteto a Débora de André Gonçalves, convidado especialmente para a temporada baiana. “O texto de Célia Forte é universal, poderia ser apresentado em qualquer lugar”, elogia o ator, que compara a situação a algo bem conhecido do espectador: “Parece festa de Natal em família, sabe?”. É na casa dela que a trama se desenrola, com revelações de fazer arrepiar até os cabelos das perucas. Um dos babados vem da própria anfitriã, que resolve contar pra todo mundo que o pai é gay. E é ela também quem diz uma frase que resume bem aquele momento: “Haja merda, haja ventilador!”.
SINOPSE
“Amigas, Pero no Mucho” conta uma história através do encontro de quatro amigas – Débora, Olívia, Fram e Sara – em uma tarde de sábado, onde todas (ou quase todas) as roupas sujas são lavadas por elas. Com humor, ironia e irreverência, elas falam sobre suas dissimulações, devaneios, loucuras e neuroses. Quatro mulheres capazes de deixar qualquer homem desencantado com o sexo oposto. Mulheres bem-sucedidas (ou não), comuns e sofisticadas que numa única tarde fazem revelações que as surpreendem. Mulheres que se amam e se odeiam ao mesmo tempo.
A atual montagem conta com o cenário do francês Jean Pierre, coreografia de Rita Brandi e direção musical de Miguel Briamonte. Os sapatos usados em cena são assinados por Fernando Pires, que desenhou modelos exclusivos para o espetáculo.
PERSONAGENS
Débora (André Gonçalves), 40 anos – Divorciada, sem filhos. Inteligente, perspicaz, irônica, mas tipo “dona da verdade”. Sempre tem uma consideração a fazer, tentando que sua opinião prevaleça. Idealiza o amor. Come compulsivamente.
Fram (Lúcio Tranchesi), 50 anos – Divorciada, dois filhos que moram com o pai. É a mais velha das quatro amigas. Já passou dos 50 anos, mas quer parecer 30. Ninfomaníaca. Fala muito palavrão quando está sozinha, em público jamais. Faz meditação, mas quando está com raiva, tem tiques nervosos.
Olívia (Agnaldo Lopes), 40 anos – Casada com filhos. Foi rica e não é mais. Leva crianças para a escola na sua VAN. Julga-se sempre perseguida. Está sempre perguntando: o que vocês estão falando de mim? Exalta o marido, Alfredo, para as amigas.
Sara (Widoto Áquila), 35 anos – Solteira. Executiva. A mais reservada. Parece ser fria, mas esconde grande esperança. Fuma descontroladamente. Não perdoa as amigas, mas pouco se importa com a opinião dos outros. Desconfiada. Odeia as hipocrisias de Fram.
FICHA TÉCNICA
Texto: Célia Regina Forte
Direção: José Possi Neto
Direção de Produção: Fred Soares
Direção Musical: Miguel Briamonte
Cenário: Jean Pierre Tortil
Elenco: André Gonçalves, Agnaldo Lopes, Lucio Tranchesi e Widoto Aquila.
Realização: Fred Soares Produções
Classificação Etária: 16 anos
Duração: 80 minutos
Serviço:
Local: Teatro RioMar (Rua Lauro Nogueira, 1355) – Piso L3 (Praça de Alimentação)
Dia: 22 de agosto
Hora: 21h30
Ingressos: Na bilheteria do Teatro RioMar Fortaleza ou www.ingressorapido.com
Funcionamento da Bilheteria: Segunda-feira – FECHADA / Terça-feira à Sábado – 12h às 21h / Domingo – 14h às 20h
Valores: Platéia Baixa A: R$ 50,00 (meia) e R$ 100,00 (inteira) | Platéia Baixa B: R$ 40,00 (meia) e R$ 80,00 (inteira) | Platéia Alta: R$ 30,00 (meia) e R$ 60,00 (inteira)
* postado por Oswaldo Scaliotti