O Banco Central tem mantido uma estabilidade institucional em suas decisões sobre a taxa de juros e deve continuar caminhando para uma agenda de mais transparência, acompanhando a trajetória de outras instituições financeiras internacionais relevantes. Essa avaliação foi feita pelo professor de economia do Ibmec, João Ricardo Costa Filho, nesta quarta-feira (2), durante podcast do Instituto Millenium, que discutiu a série história das atas do Comitê de Política Monetária (Copom), no mesmo dia em que o grupo reduziu a taxa Selic de 13,75% para 13,25% ao ano.
Ao comentar o recente paper do Instituto que analisou a atas do Copom desde 1999 e constatou que elas não ficaram mais duras no atual governo, o professor disse ter recebido a informação como uma “surpresa boa”. “Como leitor do paper e como cidadão, eu fico muito feliz que de um governo para o outro a gente tem uma instituição que se mantém”, disse. “Me surpreende um pouco, mas é aquela surpresa boa. Às vezes como pesquisador gostamos de achar a variabilidade. Mas a verdade é que como professor, pesquisador e ser humano eu gosto da ideia de que nós tenhamos certas estabilidades institucionais”, seguiu o professor.
No podcast eles também conversaram sobre as perspectivas para o futuro do Banco Central, e Costa Filho ressaltou a importância de a instituição avançar na agenda de transparência. “O Banco Central vai continuar migrando para uma direção de mais transparência. Isso é um movimento que tem sido feito, o Banco Central sabe da importância disso. Quando a gente compara a transparência do Banco Central do Brasil com outros no resto do mundo, tem várias coisas que o nosso não divulga tanto. Começou a divulgar certas estimativas para alguns indicadores da economia, mas não abre muitos modelos”, avaliou o professor.
Como contou o especialista, algumas instituições internacionais, como o Banco Central dos Estados Unidos (FED – Federal Reserve Board), tem um sistema robusto de transparência, com informações organizadas. Além de Costa Filho, participaram do debate on-line os cientistas de dados Geraldo Leite e Wagner Vargas, autores da pesquisa sobre as atas do Banco Central. O bate-papo foi mediado pelo CEO do think tank, Diogo Costa.
Atas. Integrantes do governo têm expressado descontentamento com decisões anteriores de manter as taxas em um patamar elevado, ventilando a hipótese de a motivação ser divergência política. Apesar disso, a análise do think tank não verificou alteração de conduta nas atas. “A hipótese de que as atas do Banco Central teriam endurecido no atual governo, devido à diferença ideológica, não foi confirmada pelos resultados deste estudo”, afirma o mapeamento feito pelos cientistas de dados Geraldo Leite e Wagner Vargas.
Fazendo uma avaliação do estudo publicado pelo Instituto Millenium, o professor de economia lembrou ainda que a estabilidade do Banco Central coincide com o início da implementação do sistema de metas de inflação. “É super interessante perceber que desde 1999, que é quando a gente tem a instalação do sistema de metas de inflação, o Brasil já começou a aprender com a experiência internacional e passou a reproduzir um sistema que está dando certo\”, explicou.
O estudo emprega técnicas sofisticadas de aprendizado de máquina – uma vertente da inteligência artificial que permite que os sistemas aprendam e aprimorem com a experiência – e modelagem de tópicos para transmutar documentos das atas em um formato que pode ser processado e analisado por algoritmos. Utiliza-se o método Latent Dirichlet Allocation (LDA) para detectar e agrupar tópicos distintos dentro dos textos. “Trata-se de um modelo que não é supervisionado, não há nenhum tipo de interferência humana para induzir algum tipo de padrão. Ele aprende e gera o resultado sozinho”, explicou Geraldo Leite, durante sua participação no podcast.
Como conclusão, ainda durante o podcast, Wagner Vargas reforçou a importância da elaboração de análises técnicas, baseadas em dados e evidências, para que a construção de políticas públicas no Brasil seja mais eficiente.
Para assistir a íntegra do podcast, acesse o Youtube do Instituto Millenium. A íntegra do paper está disponível no site do Instituto Millenium.
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