Pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostrou que o número de idosos em universidades no Brasil subiu cerca de 50% nos últimos anos. A aluna do terceiro semestre de medicina do Instituto de Educação Médica (Idomed), em Canindé (CE), Ana Dourado, ainda não é idosa, mas a expectativa é que se torne médica aos 62 anos.
Hoje, com 58 anos, já graduada em serviço social, direito e com uma especialização em saúde mental, Ana decidiu, mais uma vez, enfrentar os desafios do ensino superior para realizar o sonho de se tornar médica, só que dessa vez com a experiência e a maturidade ao seu favor.
Mãe de três filhos, a inspiração para buscar uma nova área de formação surgiu durante conversa com a irmã, que é médica pediatra. “No início, meus filhos não gostaram muito da ideia, pois queriam que eu aproveitasse minha aposentadoria viajando e descansando. Mas, como eu não sou de ficar parada, fiz o vestibular da Idomed e passei. Tive que me mudar para Canindé, distante cerca de 173 quilômetros de Fortaleza, e não me arrependo, pois fui super bem acolhida pelos professores e colegas que viraram uma grande família. Acredito que todo o investimento irá valer a pena, pois quero servir a comunidade da melhor forma quando me formar”, diz.
A diretora da unidade de Canindé, Iael Marinheiro, diz que a aluna Ana é um exemplo para todos os estudantes. “A nossa turma de medicina é bem eclética. Temos alunos já com outras graduações, o que é favorável, pois agrega na trajetória profissional deles e dos futuros pacientes que irão atender. A Ana Dourado, por toda a sua experiência e vontade de fazer a diferença na vida de todos, deixa-nos orgulhosos”, explica.
Desafios
Os mesmos desafios começa a enfrentar o novo aluno do Idomed do município de Quixadá, o Francisco Almir Freitas Brito. Ele tem 64 anos e acaba de ingressar no curso de medicina. Ele é enfermeiro há 30 anos e servidor do Hemoce. Almir explica que a segunda graduação será, para ele, como uma forma de continuar cuidando das pessoas, que é a atividade que mais gosta de realizar.
Casado e pai de três filhos, ele agora organiza sua mudança para Quixadá, distante 167 quilômetros de Fortaleza, local onde reside hoje. “Irei realizar um grande sonho da minha vida e o sonho de minha mãe, quando ainda era viva”, afirma.
Para o diretor do campus Quixadá do Idomed, Henrique Rocha, o ingresso de idosos nas universidades tem se tornado mais comum do que se imagina. Um dos motivos que pode ser destacado é o aumento da expectativa de vida da população brasileira. Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2030, a população de pessoas com 60 anos ou mais será maior do que a de crianças com até 14 anos.
“As pessoas estão chegando aos 60 anos com boa saúde, grande potencial intelectual e buscando, inclusive, permanecer no mercado de trabalho. Esses fatos levam muita gente a procurar uma nova graduação. Para nós, é uma honra termos alunos mais experientes nos cursos. Além de exemplo para todos de superação e força de vontade, eles estão realizando um sonho de vida. Eles são a prova de que não há limites para quem quer vencer”, finaliza Henrique.