Há alguns anos atrás, uma empresa que produzia pneus, tinha a preocupação apenas de colocar o seu produto no mercado, sem responsabilizar-se pelo futuro daquele material. O descarte ficaria por conta do consumidor que adquiriu o pneu, que poderia dar como destino uma borracharia ou ainda, lança-lo no próprio meio natural. Segundo dados da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), em 2012, cerca de 40% dos resíduos sólidos urbanos produzidos pela população brasileira deixaram de ser coletados e, por consequência, tiveram destino impróprio. Em outras palavras, quase 24 milhões de toneladas de lixo – o equivalente a 168 estádios do Maracanã lotados – foram descartados de forma incorreta em lixões ou aterros controlados, locais desprovidos do conjunto de sistemas necessários para a proteção do meio ambiente e da saúde pública, gerando inúmeros danos ambientais que comprometem seriamente a qualidade de vida e a conservação do meio natural.
Essa realidade começou a mudar após a instituição da Lei 12.305/10 – a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 12 de agosto de 2010, que, dentre outros princípios e instrumentos relativas à gestão e ao gerenciamento de resíduos sólidos, introduziu a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a logística reversa.
Nos termos da PNRS, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos é o “conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei”.
Já a logística reversa é um dos instrumentos para aplicação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. A PNRS define a logística reversa como um “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”.
A logística reversa é a prática mais visível de como a gestão dos resíduos está atrelada ao planejamento e à visão de “cadeia de valor”, envolvendo desde o insumo básico, até o reprocessamento da sucata para a produção de novos produtos. Diminuir a demanda por matérias primas extraídas da natureza e a reintegração dos materiais ao ciclo produtivo industrial é o que torna a logística reversa um fator importante para o mercado de reciclagem.
É o que realiza o Grupo Aço Cearense, grupo cearense produtor e distribuidor de aço, formado por cinco empresas, situadas no Ceará, Pará e Tocantins. Hoje, 70% da matéria prima utilizada na produção do aço na sua siderúrgica em Marabá (PA), a SINOBRAS, é proveniente de sucata, material reciclado, tornando-a a maior recicladora do Norte e Nordeste. Grande parte material utilizado na sua produção é reaproveitado. Uma das últimas aquisições do Grupo para otimizar esse processo de reciclagem, inclusive, foi um moderno equipamento, o Shredder, aumentando o beneficiamento de sucata para 170 mil toneladas/ano.
Para tratar do reaproveitamento de matérias primas e de outras formas de potencializar os negócios do setor de reciclagem, o SINDIVERDE-CE (Sindicato das Empresas de Reciclagem de Resíduos Sólidos Domésticos e Industriais do Estado do Ceará) realiza a 6ª edição do Recicla Nordeste, Feira da Indústria da Reciclagem e Transformação, um evento que traz produtos e serviços voltados para indústria e comércio de reciclagem e transformação. A feira é promovida pela Dinâmica Eventos, responsável por todo o planejamento e execução do evento, que será realizado entre os dias 15 e 17 de junho, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza, das 14h às 21h.
Sendo a única feira do setor de reciclagem e transformação da região Nordeste, a Recicla Nordeste irá reunir empresários, executivos, compradores, gestores ambientais, profissionais autônomos e representantes do poder público e de ONGs de todas as regiões do Brasil, possibilitando a convergência de interesses para o conhecimento de oportunidades de negócios, de lançamentos de tecnologias e tendências de produtos, proporcionando a concretização de parcerias estratégicas e abrindo novas perspectivas de mercado.
“Apesar de já gerar R$ 22 bilhões em negócios, as cadeias produtivas envolvidas com o lixo podem gerar bem mais. O Brasil perde, anualmente, cerca de R$ 8 bilhões com lixo não reaproveitado. Trata-se de um mercado ainda com muito a ser explorado, das mais diversas formas. Segundo estudos realizados pelo SINDIVERDE-CE, somente no estado do Ceará, R$ 200 milhões poderiam ser gerados com o aumento da reciclagem de resíduos produzidos nas empresas e residências, prova de que, além de uma necessidade urgente de maior cuidado com o meio ambiente, a reciclagem é também um investimento lucrativo e cada vez mais promissor”, justifica o Diretor-presidente da Dinâmica Eventos, Sérgio Resende.
- postado por Oswaldo Scaliotti