Sob o olhar dos curadores Conceição Evaristo, Tércia Montenegro, Talles Azigon e Daniel Munduruku, a 14ª Bienal Internacional do Livro do Ceará está chegando. As ações Pré-Bienal do Livro vêm para compor o início da programação, com atividades on-line em sua maioriaCom uma ampla programação adaptada aos novos tempos e dividida entre atividades presenciais e virtuais, sempre respeitando a capacidade de ocupação dos espaços e seguindo todos os protocolos sanitários exigidos, a Pré-Bienal do Livro do Ceará começou na noite desta segunda-feira, com um bate-papo com os curadores da 14ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, os escritores Conceição Evaristo, Tércia Montenegro, Talles Azigon e Daniel Munduruku. O encontro foi conduzido pelo secretário da Cultura do Ceará, Fabiano Piúba, e ocorreu pelo canal do YouTube da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece). A Pré-Bienal do Livro seguirá até o dia 31 de março, visando o fortalecimento da promoção do livro, da leitura e da literatura brasileira, mas com foco especial na produção cearense. A programação sinaliza também o início da 14ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, que acontece no segundo semestre de 2022, em data a ser definida. A Pré-Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma ação da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará), por meio da Coordenadoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (CLLLB), e realizada pela Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), por meio do Instituto Dragão do Mar. Confira na íntegra a live de abertura: https://www.youtube.com/watch?v=tWMy9GZLlrs.
Um diálogo sobre curadoria e sobre o tema que guia a Bienal do Livro em 2022: a diversidade. Assim, os convidados não poderiam ser outros, senão os próprios curadores da Pré-Bienal e da 14ª Bienal Internacional do Livro do Ceará. O que vem se desenhando é uma Bienal do Livro para todos, todas e todes, com o grande desafio de tornar mais democrático o livro, a leitura e a literatura. A live contou com a mediação de Jhessyca Castro, monitora do programa Agentes de Leitura do Ceará, e presença da presidenta do Instituto Dragão do Mar, Rachel Gadelha; da gestora executiva da Bece, Suzete Nunes; da diretora da Bece, Enide Vidal; e da coordenadora das políticas de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secult Ceará, Goreth Albuquerque.
O secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano Piúba, durante sua fala e mediação, ressaltou o tom da Bienal do Livro em 2022. “Diante do negacionismo a bienal será uma política afirmativa e identitária. Diante do obscurantismo e dos tempos sombrios que correm, a bienal será uma chama de luz. Diante da adversidade, a bienal será da diversidade em 360 graus. Falo isso porque a diversidade tem que estar presente na programação, seja nas mesas, nos palcos, tablados, terreiros, mas também em todo seu Âmbito de quem vai estar trabalhando por trás dessas atividades. Ela será uma possibilidade de radicalizar essa diversidade em sua plenitude: étnica, cultural, artística, política, regional, territorial, de gênero e espécies. A gente traz, em tempo, a ideia da bibliodiversidade, da biodiversidade – relacionando com a natureza – e etnodiversidade. Então, acho que a nossa bienal vai traduzir esse significado um pouco a partir da programação, que tem a ver com aquilombar, reflorestanear, aguar e reexistir”, destacou citando o poema de Conceição Evaristo, “Tempo de nos Aquilo“ Gostaria muito de enfatizar que a nossa bienal do livro vai ser um quilombo, vai ser um terreiro, esse ambiente para estar aquilombando. É uma bienal que vai aquilombar o Brasil. Mas também é uma bienal que vai reflorestanear o Brasil. Para além da ideia da cidadania, da cidade, há a ideia da florestania, que nos traz o Ailton Krenak. Então essa diversidade na sua plenitude de espécies, ela também é vital, com o conceito da biodiversidade também. Ela é uma bienal que vai aguar a nós e a outras pessoas por um mundo mais justo e solidário. Ela vai também reexistir. Essa palavra traz dentro do processo de luta histórica indígena e também afro-brasileira, que é junção da resistência e reexistência. Nossa bienal do livro não será só de resistência, será de existência, de afirmação. No sentido de existir para que saibamos que mesmo em tempos sombrios, ainda há luzes. A nossa bienal será preta, indígena, da periferia, e da diversidade de gênero, no sentido de que toda maneira de amar vale a pena. Então, é uma bienal extremamente política, na afirmação da democracia e da diversidade em sua plenitude”, comentou também o secretário.
Com a palavra, os curadores
Agradecendo o convite para fazer parte da curadoria da Bienal do Livro, a escritora Conceição Evaristo pontuou a importância do conceito da diversidade no evento. “Esta é uma curadoria que na prática traz a possibilidade de ser bastante diversa. Estar numa curadoria de uma feira do livro, antes de tudo, acho que é uma responsabilidade muito grande. De certa forma, nos últimos tempos, vimos inaugurando esse tipo de curadoria diversa. Porque as curadorias de outras feiras acabavam pecando por essa ausência de diversidade. Estar aqui tem um significado muito grande nessa possibilidade ou desejo
em fazer com que eventos literários se tornem realmente democráticos, que possam ser acessados por todos desde o início, desde sua raiz. Com essa possibilidade múltipla, sem dúvida, a gente caminha para grandes resultados. Enquanto mulher negra e militante das mulheres negras, me coloco nessa curadoria. É uma satisfação estar numa curadoria que coloca na prática essa diversidade de vozes”, frisou Conceição Evaristo.
A escritora cearense Tércia Montenegro comparou a curadoria a um fazer poético. “Enquanto professora, escritora e enquanto leitora, especialmente, minha experiência se enriquece muito fazendo parte dessa curadoria. Tenho pensado na curadoria como poética, como processo criativo, que traz noção de equilíbrio e decisões, que joga com ponderação também, que é similar ao um processo de escrever. Esse será um processo de muita troca também, um trabalho coletivo, que faz com que seja especial”, comentou a escritora e curadora da Bienal do Livro.
Já Talles Azigon trouxe reflexões sobre o trabalho do curador em exercitar uma atenção a quem está fazendo literatura. “Como curadores, nosso papel é de exercitar uma atenção e escuta profunda de quem quer produzir literatura. Porque há muito da meritocracia nas escolhas para participar de eventos como este, mas temos que questionar, temos que colocar pessoas que ‘não merecem’ estar também. Todos os dias penso na bienal. Penso como a minha percepção deve ser, para ser menos curador e mais leitor”, pontuou.
O escritor Daniel Munduruku, que mais recentemente integrou a equipe curatorial da próxima Bienal do Livro do Ceará, trouxe uma reflexão sobre a importância de se formar especialmente jovens e crianças. “Ser curador nos traz uma responsabilidade muito grande, que nos obriga a ter muito cuidado. E nos dá possibilidade de colocar nosso modo de pensar em como a sociedade tem sido narrada. Um evento literário também conta uma história. No Brasil há uma marca de uma sociedade que privilegia quem tem acesso à leitura. Dá a impressão de que realmente as pessoas convidadas para esses eventos literários são superiores. Essa narrativa fez com que as pessoas se afastassem da literatura, do livro e da leitura. Foi-se criando uma consciência ingênua, que fez com que a sociedade não caminhasse para sua libertação, que Paulo Freire tanto preconizava, de educar. Eu, como educador, penso que é uma oportunidade de educar nosso povo. Quanto mais popular um evento como esse, melhor para se apresentar esse universo para as crianças e jovens, especialmente”, finalizou.
Mais sobre a programação da Pré-Bienal do Livro
A programação da Pré-Bienal do Livro do Ceará contará com Rodas de Conversa, Palestras e Mesas de Debates; com o projeto Bienal Escuta; com oficinas temáticas e lançamentos de livros; além de atividades de Leituras Públicas e espetáculos lítero-musicais, entre outras. As atividades e ações culturais serão realizadas na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) e ampliando sua presença em outros locais fora do espaço físico da Bece, em diversos ambientes e territórios, com ações presenciais e virtuais, com e sem a presença de público, de acordo com as orientações sanitárias.
Acesse aqui a programação da Pré-Bienal do Livro
:.Serviço
PRÉ – Bienal Internacional do Livro do Ceará
De 24 de Janeiro a 31 de Março de 2022