De acordo com o advogado empresarial, Rafael de Almeida Abreu, os empresários devem adequar-se às novas exigências de mercado e adotar medidas emergenciais, como redução de custos
Setor têxtil, construção civil, alimentos, redes de bares, restaurantes, shopping centers, lojas em geral. São muitos os setores que sofrerão os efeitos negativos do período de quarentena decretado pelo Poder Público para conter a disseminação do coronavírus (COVID-19) no país. Difícil, atualmente, é encontrar uma ou outra categoria que não vá sentir as consequências da paralisação das atividades. O atual cenário econômico brasileiro coloca sob risco os negócios de diversos setores e impossibilita qualquer perspectiva de crescimento. O desafio maior, para muitos deles, será evitar a demissão em massa e até mesmo a falência.
Especialistas do setor econômico já enxergam um período de recessão que o país enfrentará por conta dessa situação de pandemia e suas limitações, não muito diferente do restante da economia mundial. Em meio a esse cenário, é muito importante que as empresas estejam mais atentas do que nunca para não atingirem uma situação financeira difícil de ser revertida. Empresas com pouca resiliência perante uma economia adversa tendem a apresentar maiores dificuldades em se manterem saudáveis. Um dos processos aos quais muitos negócios recorrem – que precede a temida Recuperação Judicial – e que deverá ajudar muitas empresas nesse momento é o de Reestruturação, que consiste basicamente, em aumentar a eficiência do negócio simplificando tarefas e descartando etapas desnecessárias e demais desperdícios.
Na situação atual do país, para a manutenção de muitas empresas, os cortes serão necessários para resguardar as atividades e boa parte da equipe e para a empresa não sucumbir à falência. Mesmo com algumas medidas adotadas pelo Governo Federal para contribuir com o não fechamento de empresas e manutenção de postos de trabalho, muitas acreditam que as ações em conjunto do Executivo com o Legislativo não serão suficientes.
É o que já se percebe no estado do Ceará, por exemplo, assim como em todo o país. A empresa Democrata Calçados decidiu paralisar temporariamente as atividades de duas fábricas no estado e descarregar a crise nas costas de seus trabalhadores com a demissão de cerca de 1,8 mil funcionários, em plena pandemia do coronavírus. Se medidas emergenciais por parte do Poder Público não forem tomadas, o setor de bares e restaurantes estima que 7 mil trabalhadores sejam demitidos a curto prazo no Ceará. Paralelo a isso, no entanto, cada empresa deve fazer o seu dever de casa preparando o seu negócio para esse novo momento.
De acordo com o advogado Rafael de Almeida Abreu (sócio da Almeida Abreu Advocacia), especialista em Direito Empresarial, Turnaround e em Recuperação Judicial, que já participou de mais de inúmeras reestruturações desde 2008, quando deflagrada a primeira grande crise econômica, esse é um momento para as empresas avaliarem a eficiência dos seus negócios, perdas decorrentes desse período de quarentena e queda nas vendas. A partir disso, devem adequar-se à atual realidade – de isolamento social, fechamento dos estabelecimentos e de poder de compra da população reduzido, o que deve perdurar por alguns meses. “Se medidas de readequação e contenção de custos não forem tomadas nesse momento, a empresa pode amargar prejuízos difíceis de serem revertidos”, explica.
Ele reforça que as empresas não devem demorar a procurar ajuda para reestruturarem-se, em especial num momento delicado como esse que o país e todo o mundo enfrenta. “Infelizmente, quando muitas empresas decidem agir, a deterioração já está num estado avançado. Se a decisão for tomada um pouco antes, muitos ativos e a saúde financeira do negócio podem ser preservados. Dessa forma, o nosso trabalho diante desse cenário é prestar uma consultoria à essas empresas, guiando-as rumo a uma atuação mais viável a nível estrutural e econômico, adequada às novas exigências do mercado. O mais importante nesse momento é manter as condições para a empresa superar a situação atual e continuar atuando, mesmo que em menor proporção e com uma equipe um pouco mais reduzida, evitando o ponto de não conseguir mais ser rentável, honrar com os seus compromissos e o prejuízo ser generalizado para todos os envolvidos. A ideia é sempre que a soma de todos os recursos empregados seja menor que o resultado entregue ao consumidor”, finaliza Rafael Abreu.