A peça conta a história de duas mulheres, que de maneiras diferentes, viveram a mesma realidade numa Fortaleza cheia de isolamento e poder.
O presente é um prato incansavelmente requentado e indigesto para aqueles que precisam se nutrir das migalhas da História. Existe um passado que se recusa a ser passado, percorrendo gerações antes e depois de 1932, ano em que os Campos de Concentração se estabeleceram no Ceará, como recurso ao isolamento das vítimas da grande seca. Uma rígida estrutura sustenta nossa ficção inspirada na realidade: Marly e Eunice, duas mulheres que atravessam a cidade de Fortaleza feito as paralelas dos trilhos de um trem.
Embora o termo seja mais associado à experiência nazista na Segunda Guerra Mundial, antes disso, em 1932, a seca, a burguesia e o Estado corroboraram para o estabelecimento de 7 Campos de Concentração no Ceara. Dois deles em Fortaleza. Um deles, “Urubu”; o outro, “Matadouro”. Na boca dos retirantes flagelados, o lugar, de promessa de trabalho e pão, acabava por virar o “Curral do Governo.”
TRINTA E DUAS nos leva a uma peregrinação pelos ciclos históricos de isolamento, poder e resistência da Fortaleza do Século XX. São várias as formas de Campo de Concentração possíveis em uma sociedade desigual. Com a chegada da seca, o sertanejo é fadado às condições de retirante, flagelados e, logo após, favelado, permanecendo, muitas vezes, à beira do mesmo trilho que o trouxe do interior. Até o momento em que a especulação imobiliária não atropele sua casa.
PROCESSO CRIATIVO
“Também os mortos não estarão seguros diante do inimigo, se ele for vitorioso. E esse inimigo não tem cessado de vencer”. O pequeno trecho de Walter Benjamin nos serviu como retrovisor durante esse processo, sempre seguindo em frente sem esquecer a necessidade de perceber os caminhos já trilhados. As urgências que nos impulsionam como artistas na atualidade refletem batalhas que já foram travadas por outras gerações – mudam os atores, mas o palco da História nos apresenta sempre o mesmo espetáculo requentado. Nossa invenção é totalmente baseada em fatos reais.
Os 29 concludentes do CPBT (Curso de Princípios Básicos do Teatro José de Alencar) que atuam em TRINTA E DUAS, dirigidos pelas mãos experientes da atriz e diretora Neidinha Castelo Branco, escolhem trabalhar sua dramaturgia baseada em um passado que se recusa a ser passado. Herdando diferentes aprendizados das turmas de Miolo (2014/2015) e Afoita (2015/2016), a turma de 2016/2017 se aproveita da trajetória de duas mulheres para trazer à tona um debate que nos é negado: os Campos de Concentração da década de 30, os conflitos urbanos que culminam com a higienização da cidade, a estrutura social que permanece em pleno funcionamento, caia a peça que cair.
Serviço:
Espetáculo Trinta e Duas
Local: Teatro José de Alencar
Sessões: 8 de setembro (19h)
9 de setembro (17h e 19h)
10 de setembro (17h e 19h)
Ingressos: R$10 (inteira) R$5 (meia)
Censura: 12 anos