Sinal analógico de TV foi desligado na capital cearense e em outros 14 municípios da região no dia 27 de setembro, quando 92% dos domicílios já estava recebendo o sinal digital. Dois meses antes, em julho, índice era de 73%
A Seja Digital, entidade não governamental e sem fins lucrativos, responsável por operacionalizar a migração do sinal analógico de TV para o digital, celebra o desligamento, que aconteceu no dia 27 de setembro. O resultado é fruto da união de esforços em prol do processo de desligamento do sinal analógico de TV em Fortaleza e em mais 14 municípios da região metropolitana.
A gerente da Seja Digital, Vejuse Oliveira, afirma que já havia passado por experiências de mobilização, mas nada parecido do que foi desenvolvido pela Seja Digital em Fortaleza: “é um trabalho muito diferenciado. Em 25 anos de experiência, não tinha visto um modelo de atuação como essa. Entender como era esse processo e qual era o vínculo que a gente tinha que desenvolver com a comunidade, com os meios de comunicação, com a sociedade civil e com os governos foi essencial para conseguirmos resultados tão positivos. É um trabalho que precisa ser construído com esse olhar de parceria e engajamento”, explica a gestora.
Desde o início deste ano, a entidade buscou informar, orientar e mobilizar a população sobre como se preparar para o desligamento do sinal de TV. Além de campanha em TV, rádio, jornal, redes sociais e nas ruas, foram realizadas mais de 200 ações em parceria com 12 prefeituras, voluntários e ONGs, como a Federação de Bairros e Favelas e o instituto Antônio Camelo.
Entre as principais entidades que trabalharam com a Seja Digital, na região de Fortaleza, está a Associação Cearense Pró-Idosos, a ACEPI, que contribuiu com a formação e organização das equipes de mobilização. Ana Lúcia Barbosa Gondim, coordenadora da associação, afirma que trabalhar no projeto foi uma experiência única por conta da sua capilaridade. “Formamos uma equipe de mobilizadores que, por meio das lideranças, permitiu alcançarmos as comunidades mais distantes. Por conta desse processo, eu pude ver de perto a força da televisão na vida das pessoas. Fomos de leste a oeste nessa cidade com a equipe de mobilização e assim foi possível chegar nas pessoas mais carentes. Para muitas delas, a TV é o único veículo de entretenimento”, diz Ana.
É o caso dos mais de 30 mutirões, que levaram informações às comunidades sobre como fazer o agendamento para retirada dos kits gratuitos e tirar dúvidas da população sobre o processo de migração do sinal de TV e sobre como ter acesso ao sinal digital.
Uma das parceiras desses mutirões foi a beneficiária e líder comunitária Ana Luiza de Lima Ribeiro, que além ajudar no diálogo na sua comunidade, contribuiu no desenvolvimento de mutirões de instalação que percorreram boa parte do Pirambu. “Demos o apoio na divulgação de quem era a Seja Digital na comunidade e na conscientização das pessoas sobre a mudança. Muitas delas ficavam desconfiadas e se perguntavam – “isso vai ser bom pra nós?”. O bom do trabalho com a Seja Digital é que não foi algo de cima para baixo e sim de baixo para cima, com as próprias pessoas da comunidade conversando com as famílias mais carentes”, conta Ana Luiza.
Em parceria com 14 prefeituras, foi possível potencializar o atendimento à população por meio de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e promotores dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que atuaram como multiplicadores de informação no contato direto com a população. Também agregaram valor ao processo os líderes comunitários e mobilizadores sociais, que levaram informações e realizaram agendamentos para retirada de kits gratuitos para TV Digital.
A Seja Digital realizou ainda, em parceria com o SESI/SENAI e a TV Verdes Mares, treinamentos para antenistas, cursos para o Patrulha Digital e mobilização para o Dia D Digital. Ao todo, foram 300 ações que resultaram em mais de 6,4 mil instalações gratuitas em Fortaleza e demais cidades percorridas pela Patrulha.
Com a compreensão de que a TV é uma parte importante do cotidiano de diversos públicos, com faixas etárias e classes sociais distintas, a Seja Digital também buscou aproximação com escolas, centros comunitários, condomínios, varejistas e antenistas durante todo o processo.
Kits gratuitos– A Seja Digital distribuiu conversores e antenas às famílias assistidas por programas sociais do governo federal. A iniciativa foi fundamental para ampliação do processo de inclusão digital de famílias de baixa renda. Mais de 530 mil kits, compostos por uma antena digital e conversor com controle remoto, foram distribuídos gratuitamente na região. Os equipamentos permitem que televisores antigos tenham acesso à programação da TV digital.
Telefonia 4G – O desligamento do sinal analógico de TV irá liberar a faixa de 700Mhz para que a oferta de internet 4G possa ser expandida na região. O 4G é uma das tecnologias mais avançadas do mundo, que permite a celulares, smartphones, laptops e tablets acessarem sinal de voz e dados a velocidades muito mais rápidas, até mesmo em ambientes fechados. De acordo com um estudo da GSM Association, esse processo de migração para TV digital pode trazer mais de US$ 5 bilhões ao PIB brasileiro, além demais de 4 mil empregos.
“Por meio da união da Seja Digital com mobilizadores, agentes comunitários, promotores, antenistas, instaladores amigos e voluntários, foi possível impactar o público nesta mudança histórica, marcada pelo avanço da tecnologia ao alcance da população brasileira. Conseguimos engajar cerca de 1,5 mil pessoas que trabalharam durante o projeto em prol da digitalização de cerca de 3,7 milhões de pessoas”, afirma Vejuse Oliveira, gerente regional da Seja Digital.
A gerente também conta que um dos momentos mais marcantes do processo foi durante uma visita à casa de um beneficiário. O morador de Aquiraz havia retirado o kit gratuitos, mas sem conseguir instalar. “Além de não ter instalado os equipamentos, estava ansioso, pois o canal que ele gostava de assistir já havia passado para o sinal digital e ele ainda estava com as suas duas TVs no analógico. Nós o ajudamos a fazer a instalação. Quando nós ligamos, foi uma felicidade imensa daquele senhor. Parecia que nós havíamos resgatado algo que ele acreditava ter perdido pra sempre na vida dele”, diz Vejuse.
Ela ressalta que o trabalho corpo a corpo da Seja Digital foi fundamental para alcançar o resultado esperado. “Tem alguns casos que a gente sabe que se não fosse esse trabalho de pegar na mão das pessoas, por uma série de fatores, elas dificilmente iriam se digitalizar. Por isso, foi muito gratificante ter feito parte dessa pequena mudança no cotidiano da população cearense, ajudando a garantir o que para muitas pessoas é o único meio de entretenimento”, conta emocionada.
A região representou o maior crescimento no índice de digitalização do Brasil até o momento, considerando todas as demais regiões onde o sinal analógico de TV já foi desligado: Rio Verde (GO), Brasília, São Paulo, Goiânia, Recife, Salvador e Vitória. O índice, medido em pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência, mostra a quantidade de domicílios aptos a receber o sinal digital. No fim de julho – 60 dias antes do desligamento, a primeira pesquisa realizada na região mostrou que 73% dos domicílios estavam preparados. No fim de setembro, com divulgação da última pesquisa, o crescimento do índice foi de 19 pontos, atingindo o total de 92%.
Com o cumprimento da meta estipulada pela Anatel e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, as 15 cidades da região de Fortaleza deram adeus ao sinal analógico de TV. A região conta, desde então, com o sinal da TV aberta 100% digital, tecnologia que oferece aos telespectadores qualidade de som e imagem semelhante à de cinema.
Sobre a Seja Digital
A Seja Digital (EAD – Entidade Administradora da Digitalização de Canais TV e RTV) é uma instituição não governamental e sem fins lucrativos, responsável por operacionalizar a migração do sinal analógico para o sinal digital da televisão no Brasil. Criada por determinação da Anatel, tem como missão garantir que a população tenha acesso à TV Digital, oferecendo suporte didático, desenvolvendo campanhas de comunicação e mobilização social e distribuindo kits para TV digital para as famílias cadastradas em programas sociais do Governo Federal. Também tem como objetivos aferir a adoção do sinal de TV digital, remanejar os canais nas frequências e garantir a convivência sem interferência dos sinais da TV e 4G após o desligamento do sinal analógico. Esse processo teve início em abril de 2015 e, de acordo com cronograma definido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, mais de 1300 municípios terão o sinal analógico desligado até 2018.
- postado por Oswaldo Scaliotti