A mostra reúne, pela primeira vez, trabalhos das artistas Ana Cristina Mendes, Luiza Simons, Tete Alencar e Tereza Dequinta
A Galeria Contemporarte, localizada na rua Vilebaldo Aguiar, 300, no bairro Cocó, recebe, até 3 de abril, a mostra “Caligrama”, que reúne, pela primeira vez, trabalhos das artistas Ana Cristina Mendes, Luiza Simons, Tete Alencar e Tereza Dequinta. Em comum, a cearensidadade e o reconhecimento mundial das conterrâneas de estilos tão distintos. A abertura será nesta quinta (16), às 19h, com a presença das artistas. Luzia Simons virá diretamente de Berlim para a estreia da exposição e conversa com convidados. “É com imenso prazer que retorno ao Ceará para dividir esse momento com estas grandes artisitas”, adianta.
A inspiração para o nome da exposição veio da fragmentação poética, quando as frases tomam formas de pessoas, rostos ou qualquer objeto que cause o entendimento geral da mensagem a ser passada. Assim, surge a Caligrama, composta por quarto artistas cearenses de prestígio e conhecimento internacional, numa “conversa” inédita a partir de diferentes técnicas e visões de mundo pelo olhar que cada uma imprime na arte. No acervo, fotografias, desenhos, vídeo e pinturas.
Para o diretor da Contemporarte, Aldonso Palácio, o encontro simboliza um recorte de uma cena artística contemporânea feita por artistas que vêm construindo uma carreira notável e carecem do reconhecimento do público cearense. “Este é um novo momento de criação de público para a arte contemporânea no Ceará, com o surgimento de novos nomes e uma democratização da arte. É nesse movimento que temos levado a Contemporarte. Também é um momento de amadurecimento da galeria. Estamos orgulhosos em trabalhar com artistas desta qualidade e realizar este intercâmbio de produções diretamente de Londres e de Berlim.”, afirma o galerista.
Caligrama
O cearense é um povo com tradição de êxodo, da terra cáustica e falta de oportunidades que o leva a desbravar novos lares e horizontes. Entretanto, há algo ligado ao chão onde nascemos que nos coloca às voltas com nossas questões de identidade e pertencimento.
É com esse sentimento que a Contemporarte apresenta uma exposição de encontros pouco prováveis, de quatro artistas em diferentes lugares e momentos que possuem visões de fronteiras elásticas para sua obra, e entram em diálogo pela primeira vez.
Em comum elas têm o fato de serem mulheres nascidas no Ceará e possuem um conjunto de obra que alcança um público global. Já de diferenças seriam muitas para listar: são processos distintos que passam pela escanografia, fotografia, performance, escultura, costura, tatuagem, grafite e desenho; além de questões e contextos tão diversos e particulares do universo de cada uma. Um caligrama de obras, fragmentos poéticos de quatro artistas, que ecoavam soltos e enfim entrelaçam-se.
Sobre a Contemporarte
Fundada em 2014, a Contemporarte surgiu como um projeto de empreendedorismo dos sócios Aldonso Palácio e Mário Acioli, apaixonados pela arte contemporânea nacional do século XX e XXI, sobretudo a cearense. A princípio, funcionou como galeria online, no intuito de facilitar o acesso a gravura e arte cearense para um público cada vez maior e conectado. Com a inauguração da sede física, passou a reunir artistas e interessados em arte. Seja nas grandes exposições, lançamentos editoriais, apresentações ou nos encontros despretensiosos para falar e admirar arte contemporânea.
Atualmente, a galeria incentiva uma nova geração de colecionadores, oferecendo obras com real valor artístico de nomes estabelecidos no cenário e de uma nova safra promissora de artistas.
Artistas
Ana Cristina Mendes (Fortaleza-CE, 1967)
Ana Cristina Mendes é artista visual, mestra em Artes (UFC-CE), graduada em Artes Plásticas (IFCE–CE), Design (FIT – Fashion Institute of Technology, Nova York / EUA) e extensão em Dança e Pensamento (Escola de dança da Vila das Artes / UFC). Trabalha na fronteira de diferentes linguagens artísticas, com o olhar direcionado ao desenho, à performance, à fotografia e à vídeo-instalação. A experiência artística se dá a partir dos sintomas provocados no corpo que rompem brechas como prováveis escapes. Sua pesquisa recente Oceano [in]vestido teve como proposta um trabalho em processo e em colaboração à distância, através de um experimento (um vestido e um caderno de registro) deslocado como disparo para uma experiência estrangeira. O processo continua e, nesse momento, novos escapes desaguam em extensões mais elásticas através do mar-tecido, que apresenta na galeria a partir de uma performance em vídeo e pinturas que vieram a partir dessa experiência. Metaforicamente, criar esse ”mar”, impregná-lo com seus resíduos naturais e atravessá-lo pelo Atlântico é como uma lente de alcance que, para além da arte, propõe-se a diluir fronteiras, falar de formas de ligação, conexões e viagens. Realizou exposições coletivas, individuais, performances e residências artísticas em âmbito nacional e internacional. Integra grupos ligados a performance e corporeidade.
Luiza Simons (Quixadá-CE, 1953)
Luzia Simons trabalha vive e trabalha em Berlim e já participou de importantes mostras coletivas em instituições como a Bienal de Curitiba (2013), o Museum der Moderne (Salzburg, Áustria), Kunsthalle Emden (Emden, Alemanha), o Tóquio Art Museum (Tóquio, Japão), o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca de São Paulo e individualmente na Bienal de Istambul (2005), no Museum de Buitenplaats (Eelde, Holanda), no Centre d’Art de Nature ( Château Chaumont-Sur-Loire, França). Sua obra faz parte de coleções nacionais e internacionais, como as do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, do Fonds National d Art Contemporain (Paris, França), do Graphische Sammlung der Staatsgalerie (Stuttgart, Alemanha), da Casa de las Américas (Havana, Cuba), da University of Essex Collection of Latin American Art (Essex, Inglaterra), entre outras.
Volta a Fortaleza com a série Tickets (Einzelfahrt), composta por 13 trabalhos em escanografia, que refletem o deslocamento cultural e de identidade da artista em solo alemão. Os elementos de segurança impressos nos bilhetes do transporte público de Berlim brincam com o sentido da palavra alemã Einzelfahrt, que traduz livremente “viagem só de ida”. Estes elementos são mesclados com recortes que representam suas origens nordestinas e brasileiras. Uma dialética do pertencimento e da incessante condição de estrangeira da cearense, que reside há mais de 40 anos na Europa.
Tereza Dequinta (Fortaleza-CE, 1987)
O trabalho de Tereza Dequinta confunde-se com o Acidum Project de arte urbana, fundado em 2006 e que toca junto o marido Robézio Marqs desde 2011. O casal já realizou grandes murais e importantes projetos em Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Colônia, Berlim, Paris, Cabo Verde, Miami e Toronto. A arte do projeto é dinâmica e variada, além das pinturas o projeto utiliza outros suportes e variadas técnicas para as artes, tais como: design, fotografia, graffiti, lambe-lambe, tatuagem, stickers, stencils, vídeos, além da criação de poesias.
Para esta exposição, Tereza traz uma seleção de pinturas com seus personagens e fantasias característicos, reverberando o reconhecido trabalho muralista urbano. A artista nos traz também uma série de desenhos onde a sobreposição de papéis nos mostra como a arte de Tereza e de Robézio se unem e se diferem no processo do Acidum.
Tete de Alencar (Iguatu-CE, 1977)
Nascida em Iguatu, Tete Alencar vive e trabalha em Londres e é membro da Royal British Society of Sculptors. Tem na escultura uma de suas principais vertentes, passando ainda pelo happening, fotografia e desenho. Já expôs seus desenhos e esculturas na galeria Andrea Rehder, em São Paulo, assim como na Alemanha, Inglaterra, França e Cuba.
Em 2001, a artista trouxe objetos em tecido para uma exposição em Fortaleza, que na nossa luz tomou outra configuração, ganhando vida no fim da tarde com a energia do sol, projetando sombras nas paredes que mais pareciam seres vivos. Desde então, copiar as sombras de todas suas esculturas tornou-se um hábito.
No ateliê, em Londres, os desenhos são preenchidos com linhas paralelas que Tete afirma que nunca haver errado uma sequer, parecendo os já ter desenhado na mente, podendo prever todos os obstáculos que encontraria pela frente.
As peças da Caligrama são sombras fotografadas das pedras do deserto do Wadi Rum na Jordânia. As sombras nesta parte do mundo são tão importantes quanto as sombras do Ceará que são essência para a sobrevivência dos seres que vivem neste ambiente.
Serviço
Caligrama
Local: Galeria Contemporarte (Rua Vilebaldo Aguiar, 300 – Cocó)
Data: 16 de março a 13 de abril
Rua Vilebaldo Aguiar, 300, Fortaleza-CE
De segunda a sexta, de 10h às 19h
(85) 3023.2001
Programação Gratuita
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- postado por Oswaldo Scaliotti