O Indicador de Incerteza da Economia, elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e divulgado nesta terça-feira (30), saltou 8,1 pontos de março para abril e chegou a 117,3 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos. Esse é o maior nível desde setembro do ano passado (121,5 pontos). A alta do indicador foi influenciada, principalmente, pelo componente de expectativa, construído a partir das previsões dos analistas econômicos, que subiu 11,4 pontos.
Para Filipe Albuquerque, sócio diretor da V8 Capital, empresa de gestão de investimentos, diversos fatores contribuíram para o avanço da incerteza em relação à economia, a exemplo da instabilidade política e da revisão de indicadores econômicos. “O indicador da FGV reflete o que a economia está vivendo na prática, as incertezas em relação ao governo. Acho que muita gente ficou otimista com a eleição do Bolsonaro sem ter ciência da dificuldade que é aprovar uma reforma da Previdência. Agora que a gente vê as complicações, os tropeços do governo também, as cabeçadas no dia a dia com o Congresso e com o vice-presidente, isso traz uma série de incertezas. Se a reforma da Previdência não passar, é normal que haja um reflexo nesse indicador”, avalia.
Albuquerque destaca, ainda, que as reduções seguidas na projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano também contribuíram para o aumento da incerteza em relação à economia. “No começo do ano, havia uma projeção relativamente alta para o crescimento do PIB. Agora, essa projeção vem caindo. O crescimento não vem. Isso traz mais incertezas também do lado dos empresários em relação à retomada da economia”, afirma o sócio diretor da V8 Capital, acrescentando que esse cenário deve mudar com a aprovação da reforma da Previdência. “Acho que esse indicador tende a diminuir as incertezas nos próximos meses, com o andamento da reforma”, diz.
Segundo a FGV, outro fator que influenciou o avanço da incerteza com a economia foi o componente de mídia, baseado na frequência de notícias com menção à incerteza na imprensa, que subiu 6,4 pontos. “O indicador da FGV mede o impacto de notícias e análises na economia e como elas trazem volatilidade para o mercado. É um indicador que mostra um sentimento de mercado baseado nas notícias que são divulgadas. Mas quem é um profissional de mercado financeiro entende que essas notícias também são consideradas ruídos, pois o que importa no longo prazo não são essas notícias de curto prazo, informando, por exemplo, que a reforma da Previdência vai ser atrasada ou as discussões no Twitter entre os filhos do Bolsonaro e os políticos que fazem parte do governo. Não são essas informações que vão aumentar o lucro, o retorno das empresas”, avalia Rafael Meyer, assessor de investimentos da Conceito Investimentos.
De acordo com Meyer, as empresas estão crescendo e investindo, ainda que não seja no patamar esperado pelo mercado, devido, sobretudo, à expectativa pela reforma da Previdência “Existe uma probabilidade muito grande de, após a aprovação da reforma da Previdência, haver a entrada de um montante significativo de capital estrangeiro no Brasil, o que vai fazer com que esses termos como incerteza e crise, de certa forma, acalmem, e esse indicador vai perceber que essas palavras estão sendo menos posicionadas, apresentadas nas mídias, o que vai fazer com que esse índice caia”, afirma.
Mercado de ações
O assessor de investimentos da Conceito Investimentos também acrescenta que esse cenário pode gerar certa preocupação para os investidores que estão entrando agora no mercado de ações, mas também representa uma oportunidade para o investidor mais experiente. “O investidor experiente pode se beneficiar de um eventual recuo da Bolsa de Valores, por exemplo, pois ele poderá comprar ações de empresas que já estão vendo resultados positivos, geração de caixa etc. Esses investidores vão se beneficiar no longo prazo”, explica Rafael Meyer, reforçando que acredita na aprovação da reforma da Previdência, o que deve fazer o Indicar de Incerteza da Economia recuar.