Procedimentos foram transmitidos ao vivo para mais de 300 médicos que participavam da 1ª Jornada Internacional de Ginecologia Minimamente Invasiva
A dona de casa Rosineide Vieira de Oliveira, de 43 anos, já sofre com sangramentos intensos durante o período menstrual há mais de quatro anos. Mas foi somente quando a dor se agravou que ela procurou assistência em um posto de saúde na Messejana, bairro onde mora. De lá, foi encaminhada para um ginecologista, sendo diagnosticada com um cisto no útero. Por consequência deste fato, ela foi indicada para realizar uma histerectomia, que é justamente a retirada do órgão.
Ela foi uma das cinco beneficiadas pela cirurgia ginecológica minimamente invasiva, e foi operada no início da tarde deste sábado (7), na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC). A cirurgia dela foi transmitida ao vivo para mais de 300 médicos que participaram da I Jornada Internacional de Ginecologia Minimamente Invasiva, que terminou hoje no Seara Praia Hotel. A MEAC foi o primeiro hospital da capital cearense a oferecer tratamento multidisciplinar para endometriose pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o supervisor da Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia da MEAC, Dr. Leonardo Bezerra, este ano, na Maternidade Escola, foram mais de 600 procedimentos minimamente invasivos em ginecologia, como incontinencia urinária, endometriose, prolapso uterino. “Com este aporte tecnológico, a gente consegue fazer cerca de 80% das cirurgias por técnicas minimamnete invasivas. Aquilo que no passado precisava de incisão abdominal, hoje a gente faz por laparoscopia ou por via vaginal”, explica.
Os participantes do evento puderam assistir a realização de um procedimento com mínimas incisões, com a inserção de uma câmera que possui resolução por acuidade, que transmite a imagem para uma tela de alta resolução e que garante o máximo de precisão cirúrgica e conforto para as pacientes, tanto durante como no pós operatório, conforme explica o professor associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Maurício Simões Abrão.
Sengundo ele, a endometriose, por exemplo, é uma doença que deve ser tratada cirurgicamente apenas por este método. “Não só pelo fato estético, mas também porque dá acesso a várias áreas da pelvis onde possam ter os focos de doença, e a partir de pinças é possivel retirar o tecido doente”, explica.
Endometriose
Ainda de acordo com Abrão, a endometriose é uma doença que acomete entre 10% e 15% da população feminina em idade reprodutiva, o que significa cerca de 6 milhões de mulheres em todo o Brasil, além de ser o principal motivo delas faltarem ao trabalho. Mais de 20% dos casos pode ter comprometimento intestinal, se estiver em estado avançado.
Este é o caso de Rosivânia Nepomuceno, de 29 anos. Desde a primeira menstruação, aos 11, sofre com os sintomas da endometriose. Embora eles se manifestassem de maneira mais branda até os 20 anos, com o início da vida sexual, as dores foram aumentando gradativamente. “Depois que eu casei piorou ainda mais, porque eu tinha relações. E eu descobri que tinha mesmo esse problema quando tentei engravidar, há três anos. Eu sempre me cuidei, fazia exames de prevenção mesmo antes de perder a virgindade, e eles tinham resultados normais”, conta.
Há cerca de três anos, enquanto assistia a um programa sobre saúde na televisão cujo tema do dia era endometriose, foi que Rosivânia percebeu que os sintomas eram similares aos dela e os relatou para uma ginecologista da MEAC. Ela fez um exame de mapeamento e descobriu que a doença já estava em grau avançado: sangramentos durante 23 dias seguidos, dores insuportáveis, desmaios.
Ela até precisou abandonar o trabalho como auxiliar de cozinha por conta das dores, e já está sem trabalhar há cinco meses. Apesar disso tudo, ela é grata por ter a oportunidade de realizar a cirurgia. “Eu estou muito feliz, até porque eu ainda só tenho 29 anos, mas tem mulheres que descobrem bem mais tarde, com mais de 40 anos. E eu tenho fé que, se eu me sair bem nessa cirurgia, eu vou conseguir engravidar. É uma luta constante”, reforça ela, que já tenta engravidar há três anos e é casada há quatro.
* postado por Oswaldo Scaliotti