Proposta em tramitação no Poder Legislativo prevê multa para empregadores que pagarem salários diferentes para homens e mulheres que exerçam a mesma função
Apesar de uma leve redução ocorrida nos últimos 7 anos, as mulheres brasileiras ainda ganham 20,5% menos que os homens, conforme o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). No Ceará, essa diferença salarial é um pouco menor, mas ainda chega a 12,5% em um mesmo cargo, segundo um levantamento da plataforma de inteligência Quero Bolsa, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), feito pelo governo federal. Essa disparidade poderá cair de forma mais rápida nos próximos anos, caso avance a proposta que prevê multa para empregadores que não pagarem o mesmo salário para homens e mulheres que exerçam a mesma função. Na última quarta-feira (13), o Senado aprovou a proposta, que segue agora para a Câmara e, se também for aprovada lá, precisará ser sancionada pelo presidente da República.
Além da diferença salarial, as mulheres também enfrentam outros desafios no mercado de trabalho, sobretudo em cargos mais elevados, onde elas ainda são minoria. Segundo o IBGE, somente 39,1% dos cargos gerenciais nas empresas brasileiras são ocupados por mulheres, enquanto os homens ocupam 60,9%. Entre as estratégias apontadas por especialistas para que as mulheres superem essas barreiras, está o investimento em qualificação. “O que falta no mercado é preparação, é a tão falada qualificação profissional. E isso acontece em qualquer idade ou tipologia sexual escolhida. Cabe à empresa entender e selecionar por competência, por alinhamento de valores, e ter uma gestão baseada em meritocracia. Dar mérito e premiar quem entrega resultados. A mulher hoje é extremamente capacitada, em termos de conhecimento adquirido em cursos, e consegue ser muito competente, faz várias tarefas aplicando as diversas competências simultaneamente. Dizem que mulher faz mais uso da intuição e sensibilidade. Concordo que é verdade. Mas essas características, como todas as outras competências mais desejadas no universo corporativo, estão à disposição de homens, mulheres e todas as tipologias adotadas hoje em dia. Repito: o que falta é preparação, qualificação, comprometimento com resultados. E se falta, falta para todos. Não é questão de sexo”, afirma a diretora da Studart RH, Gisele Studart.
Ela destaca, contudo, que a mulher ainda enfrenta alguns desafios no mercado de trabalho brasileiro e reforça a questão da diferença salarial que persiste entre homens e mulheres, embora reconheça os avanços que já ocorreram no sentido de derrubar antigos preconceitos. “Ainda temos desafios, acredito que cada vez menos, para mostrar nossa competência, nosso mérito. Desafio de ser igualmente recompensada financeiramente quanto os homens. Mas os tempos têm mudado, preconceitos têm caído e os resultados demonstram que mulheres trabalham e têm condições de ocupar cargos de gestão e serem muito bem-sucedidas”, diz.
As mulheres também enfrentam resistência na ocupação de vagas antes preenchidas exclusivamente por homens, mas já é possível observar avanços que têm proporcionado benefícios como a formalização do trabalho. “Empresas de porte menor, por exemplo, estão contratando mulheres para exercerem funções de serviços mais pesados. Então, mesmo nessas vagas de qualificação menor, as mulheres estão conseguindo formalidade”, destaca a diretora do Instituto Brasileiro de Finanças do Ceará (Ibef), Marta Campelo.