Mais de 20% das empresas cearenses tiveram prejuízos em janeiro. Nacionalmente, o levantamento realizado pela entidade revela que 23% ficaram no negativo no primeiro mês do ano e uma em cada cinco têm dívidas bancárias
Nova pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostra que a situação do setor de alimentação teve deterioração no primeiro mês do ano, com muitas empresas ainda patinando para se recuperar dos tombos causados pela pandemia. A pesquisa ouviu 1477 empresas de todo o país e revelou que quase um quarto delas (23%) registraram prejuízo em janeiro, um crescimento de 4 pontos percentuais em relação ao resultado de dezembro. Outros 43% trabalharam com lucro (queda de 4 pontos) e 34% ficaram em estabilidade.
O Ceará seguiu a mesma tendência, com cerca de 22% registrando prejuízo em janeiro, enquanto outros 38% tiveram estabilidade e 40% tiveram lucro. Quando se analisa a inflação, um pouco mais da metade, cerca de 56%, não estão conseguindo reajustar os preços conforme a média da inflação, que foi de 5,77% durante o período de 16 a 27 de fevereiro.
”No Ceará, apesar do endividamento e baixo retorno aos bares e restaurantes, o empreendedor contratou mais acreditando na recuperação do setor, porém com a pressão crescente das dívidas, os estabelecimentos estão atrasando o pagamento de tributos e com recente sinalização de aumento de impostos pelo Governo do Estado do Ceará, isso deve agravar ainda mais a situação de bares e restaurantes e freiar os números de contratações de mão de obra pelo resto do ano, mostrando possível cenário de recessão pelo setor que mais emprega no Brasil. É uma situação desesperadora e desestruturante do setor”, afirma Taiene Righetto, presidente da Abrasel no Ceará.
Segundo Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel Nacional, este é o item de despesa em que a falta de pagamento leva algum tempo para gerar consequências que afetam o funcionamento da empresa, mas uma hora a conta chega.
Nacionalmente, a pesquisa revelou que 55% das empresas não fizeram reajuste de preços, sendo que 29% fizeram reajustes abaixo do índice e 26% não conseguiram fazer reajuste algum. Outros 35% aumentaram conforme a média e apenas 10% aumentaram o cardápio acima deste índice.
O presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, destaca a importância de o governo federal atentar para a piora do quadro, principalmente quanto às empresas que ainda sofrem os efeitos devastadores do período de restrições, com endividamento alto e pagamentos em atraso. Segundo ele, “em média, 10% do faturamento das empresas que tomaram empréstimos está sendo aplicado em pagar dívidas bancárias, um índice muito alto. Não à toa, a inadimplência em relação a empréstimos de linhas regulares já atinge uma em cada cinco destas empresas”.
A pesquisa ainda revelou que 66% das empresas têm hoje empréstimos bancários contratados. A inadimplência é de 21% entre os que tomaram dinheiro de linhas regulares e de 13% entre os que aderiram ao Pronampe (a média do programa no Brasil é de 5,2%). Além disso, em média 10,3% do faturamento das empresas que têm empréstimos está empenhado em pagar as parcelas. Para um terço delas (33%), está acima deste patamar (24% têm entre 11% e 20% do faturamento empenhados, e para 9% o percentual está acima de 20%).
Violência contra a mulher
Por fim, a pesquisa também abordou o tema do assédio e violência contra mulheres nos estabelecimentos de alimentação fora do lar, um tema importante para a sociedade que voltou recentemente à baila com projetos de lei e decretos em estados e municípios. De acordo com a pesquisa, 80% dos estabelecimentos já implantaram ou pretendem implantar sinalização sobre canais de denúncia ao assédio contra mulheres – 13% já implantaram e 67% pretendem implantar em breve. Outras medidas que têm ampla adesão são o treinamento dos funcionários para lidar com as situações de assédio/violência (78%) e protocolo para acionamento imediato de autoridades (74%). Entre as medidas consideradas menos viáveis estão vigilância especial em áreas isoladas ou com pouca iluminação (52% creem não ser viável para o estabelecimento) e espaço físico reservado para o acolhimento (58% não veem viabilidade na implantação em seu estabelecimento).
No Ceará, 81% dos estabelecimentos já implantaram ou pretendem implantar sinalização sobre canais de denúncia ao assédio contra mulheres.