Você sabe o que é a ourivesaria? É possível que você até tenha uma peça feita por meio dessa técnica e não saiba. A ourivesaria é a arte de trabalhar metais preciosos (em especial ouro e prata) na fabricação de joias e ornamentos. Os primeiros registros de joias feitas de ouro remontam a sítios arqueológicos no mar Egeu, datados em torno de 2500 a.C. No Egito antigo já se produziam trabalhos altamente detalhados tendo como base esses metais. Mas foi na Idade Moderna que as joias ganharam o status de prestígio ao figurar nas principais cortes do mundo. Até hoje, ter uma joia é sinal de requinte e elegância. O caminho que leva o metal em estado bruto a se transformar em uma peça de arte é feito pelo ourives, profissional cuja técnica é uma atividade de cunho eminentemente artesanal.
Em Fortaleza, o seu Bonfim, de 81 anos, é um conhecido artista da ourivesaria, tendo começado a consertar peças ainda na infância e a produzir joias e ornamentos artesanalmente a partir da adolescência. A paixão pela arte é tanta que foi transmitida para a neta, Bruna Bortolotti. Sempre acompanhando o trabalho do avô, a estudante de arquitetura de 23 anos enveredou pela ourivesaria “oficialmente” aos 18 anos e lança agora sua segunda coleção de joias artesanais.
Nesta quarta-feira (3), Bruna Bortolotti apresenta as peças de “Sagitário”, nome escolhido para a coleção, dedicada ao avô, seu Bonfim, um mestre no ofício. Bruna e Bonfim estarão juntos no lançamento, a ser realizado em Fortaleza (CE), às 19 horas, na Sem Título Arte (Rua João Carvalho, 66), um espaço de experimentação de arte contemporânea. Na ocasião, avô e neta farão uma desmontagem do processo de criação e produção das joias, numa conversa sobre ourivesaria. O evento é aberto ao público.
A coleção “Sagitário” é composta por 15 peças, entre pingentes, brincos e anéis. Para a produção da coleção, Bruna Bortolotti utilizou prata 950, trabalhadas do linguote de prata até a finalização pela ourives. As peças também podem ser feitas em ouro, sob encomenda. O valor das peças varia entre R$ 160 e R$ 300 e podem ser adquiridas na loja online www.bortolotti.art.br ou no Instagram @bortolotti.art. A marca também conta com representação em São Paulo.
A respeito da escolha do avô como inspiração para criar e dedicar a coleção “Sagitário”, Bruna justifica: “Bomfim é sagitariano. Nunca envelhece. Metade homem, metade cavalo; atravessa a vida com um entusiasmo capaz de tirar o fôlego dos meus vinte e poucos anos. Estar entusiasmado é ter um ‘deus em si’. Suas flechas estão sempre apontadas para um porvir, um futuro que não tem medo de abraçar, de experimentar. Entre os signos de fogo, Sagitário é brasa, um signo de sábios. Ao seu Bomfim eu dedico esta nova série de peças. Não é exatamente uma referência literal ao signo, nem ao que vejo dele no meu avô. São atravessamentos do percurso que a flecha faz até chegar ao alvo”.
E completa: “um caminho nem tão preciso assim, um alvo até desimportante. São pequenos vestígios dessa relação amorosa que vou reunindo para o trabalho. Numa viagem ao interior da Bahia descobri Oxóssi, o orixá do arco e da flecha de prata, correspondente a Sagitário. Sagitário, a coleção, é feita de abstrações dessas conexões todas, nela mantenho meu gosto pela sutileza, pelo descarte do supérfluo, um repertório estético e plástico que adquiri no estudo da arquitetura e na prática da oficina. Vejo a coleção como um conjunto de pequenas esculturas com vida própria”.
A arte que vem do berço
Com apenas 18 anos, Bruna Bortolotti, hoje com 23 anos, descobriu na família a ourivesaria. O avô, Seu Bomfim, de 81 anos, trabalhou como vendedor de joias e avaliador de penhor, quando aprendeu ainda mais sobre os metais preciosos. Foi ele a principal referência da jovem, que decidiu se dedicar à profissão de ourives e hoje assina a marca Bortolotti. “Ele começou vendendo relógios no Centro e, logo em seguida, joias, mas não eram peças autorais. Naquela época não se valorizava o design e sim o metal em si. Minha família sempre teve as joias que ele fazia e cresci ouvindo essas histórias”.
Por meio do curso de Arquitetura, na universidade, criou o hábito de desenhar constantemente. “Só que no curso a gente não tem a oportunidade de construir um projeto até o final, vê-lo se concretizar. Eu vi na ourivesaria a oportunidade de participar de todas as etapas da construção de uma peça. Meu processo criativo é livre, até hoje é assim. Sempre estou com o caderno, nas aulas, em qualquer lugar. Eu não sou de jeito nenhum metódica”.
Com as criações no papel, a cearense vai até o ateliê que divide com o avô, um inventor nato. No local, é possível encontrar máquinas adaptadas pelo senhor para a ourivesaria e que facilitam o trabalho da dupla. “Muita coisa eu vou descobrindo e modificando à medida que executo. Muitas vezes faço somente um esboço, nada detalhado. Se eu desse pra outra pessoa, ela provavelmente não conseguiria executar”.
Para começar a criar suas próprias peças, Bruna viajou para São Paulo para fazer um curso, onde aprendeu o básico. “Quando eu voltei pra casa, contei pro meu avô e a gente arrumou o espaço para eu trabalhar com ele, que vai me ensinando no dia a dia o que eu preciso”.
A principal vitrine da marca é o Instagram (@bortolotti.art), já que o processo de venda acontece na rede social. Foi através do perfil, aliás, que ela recebeu o convite de Iury Costa para assinar joias da coleção do estilista desfiladas no Dragão Fashion Brasil. Bruna, por enquanto, não consegue lançar coleções em intervalos de tempo certos, devido à rotina atarefada.
O material mais utilizado pela ourives é a prata, pela facilidade de comprar e devido ao preço acessível. “Eu faço peças de ouro sob encomenda, porque tem um retorno maior. Também trabalho com cerâmica. É uma grande vantagem eu trabalhar com o meu avô, porque eu não dependo da oficina de ninguém. O que eu pensar em fazer, ou dou um jeito ou ele me ajuda na ideia. Ele inventa uma solda ou um maçarico para aquilo. É uma profissão que vem da família. Meu avô fez isso a vida toda e agora eu achei uma forma de dá continuidade ao trabalho dele. O processo é todo artesanal, inclusive porque as máquinas foram feitas por ele”.
As peças da Bortolotti Art variam entre R$ 100 e R$ 200. “Tem algumas peças que eu faço e nem coloco para vender. Essas são as mais especiais e as primeiras que eu fiz também. Quero continuar tendo, no futuro, uma tiragem pequena, pois a ideia é me concentrar em produzir peças com qualidade e não com a quantidade”.
Serviço:
LANÇAMENTO DA COLEÇÃO “SAGITÁRIO”
Nova série de joias de Bruna Bortolotti – Conversa com o púbico entre a artista e seu avô, Bonfim
Data e horário: 3 de maio (quarta-feira), às 19 horas
Local: Sem Título Arte (Rua João Carvalho, 66 – Aldeota) – Fortaleza – CE
Aberto ao público
- postado por Oswaldo Scaliotti