Ensaio sobre a realidade de um trabalhador no dia 08 de junho de 2020
por Rodolphe Trindade, Presidente da Abrasel no Ceará
Deu meio-dia e eu, você, e todos os trabalhadores do estado vamos sair para almoçar, mas infelizmente, na empresa onde trabalho, não dá para comer no local. Então me vem à cabeça: onde posso fazer minha sagrada refeição?
Eu, que acordo cedo e fico uma hora espremido em um ônibus, para chegar ao trabalho, não tenho tempo para preparar minha comida e trazer numa quentinha. Além disso tudo, a grana está curta. Não dá para pagar taxa de delivery de aplicativo para entregar no trabalho para eu sair e achar um cantinho para almoçar.
Saio da empresa para buscar onde comer e, lá fora, vejo que a fila da padaria, do supermercado e da lanchonete para pegar a comida e levar está gigantesca! Tenho uma hora para almoçar e não sei o que fazer!
Afinal, vou seguir o conselho dos meus colegas e comprar uma quentinha de um ambulante perto da esquina do trabalho. Se eu tiver sorte vai ter menos gente aglomerada do que ontem e vai sobrar um banquinho de plástico para eu sentar e almoçar na calçada mesmo.
Do outro lado da rua há um restaurante onde sempre almoçava, mas ele está fechado por… Covid? Bom seria se eu pudesse estar sentado lá, num lugar seguro, confortável, comendo uma comida de melhor qualidade. Nem sei de onde vem essa comida do ambulante, se passou pela vigilância sanitária. Mas isso não importa tanto, pois minha minha maior preocupação agora é esse tanto de gente comendo nos banquinhos ao meu lado, bem pertinho de mim mesmo. É muito perrengue para almoçar, mas no fim, tudo isso é melhor do que passar fome, então vai assim mesmo!
Já que os salões de beleza e shoppings estão abertos, será que se o dono do restaurante se organizasse, deixando entrar menos pessoas, colocando máscara e álcool gel na turma, e limpando tudo direitinho, eu não poderia comer lá?