Um dos nomes mais destacados da cena musical cearense, com músicas cantadas por artistas como Fagner, Simone Guimarães (SP) e Leny Andrade (RJ), o compositor, poeta e cantor Marcus Dias, parceiro de artistas como os cearenses Pantico Rocha, Isaac Cândido, Marcílio Homem, Rogério Lima e Ciribáh Soares, é o centro de uma forte corrente de solidariedade nos últimos dias, em Fortaleza. O artista sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) de grande extensão, em plena madrugada do último dia 1º de janeiro.
Para angariar recursos destinados a seu tratamento, acontece na próxima quarta-feira, 30/1, às 20h, no Theatro José de Alencar, o show “Dias Solidários – Grandes Nomes da Música Cantam por Marcus Dias”, com a participação de dezenas de grandes nomes da música do Ceará, como os cantores Waldonys, Rodger Rogério, Davi Duarte, Bloco Luxo da Aldeia, Eugênio Leandro, Edinho Vilas Boas, Marcus Caffé, Myrlla Muniz, Ciribáh Soares, Isaac Cândido, Pingo de Fortaleza, Pedro Frota, Ricardo Black, Rogério Franco, Serrão, Beto Paiva, Bel Girão, Clara Luz, Gilmar Nunes, André Marinho, João Cândido, João Barbosa, Grupo Phylos, João Mamulengo, João Marinho Jr., Jord Guedes, Josy Daniel, Kelly Brasil, Lia Veras, Masôr Costa, Lupe Duailibe, Marina Cavalcante, Marcelo Renegado, Mylla Torres, Úrsula Feitosa, Banda Eletrocactus.
Entre os instrumentistas, participam do show Mimi Rocha, Rogério Lima, Lu D´Sosa, Ricardo Pinheiro, Marcio Resende, Miqueias dos Santos, Rafael Magoo, Ricardo Pontes, Serginho Groove. Outros nomes seguem confirmando presença a cada momento, em uma grande corrente solidária.
O público que comparecer ao show contribuirá com a campanha através do ingresso no valor de R$ 40,00 (meia a R$ 20,00), integralmente revertido para o apoio ao tratamento de Marcus Dias. O Theatro José de Alencar abriu mão do valor da pauta e de todas as taxas, associando-se à campanha. Todos os músicos, tanto os cantores quanto os instrumentistas, estão participando voluntariamente, sem cachê, como forma de ajudar o amigo compositor. Os equipamentos de sonorização e iluminação também estão sendo cedidos gratuitamente, além de todos os serviços de produção e divulgação do show.
O público também pode participar da rifa de uma guitarra semiacústica Hofma que foi lançada para reforçar a arrecadação de recursos, com contribuições. Para participar, basta depositar o valor mínimo de R$ 100,00 na conta de Angela Serpa, esposa de Marcus (Caixa Econômica Federal, Agência 1888, Operação 013, Conta 25790-0, CPF 648.888.353-49), enviando o comprovante por whatsapp para 85.99973.3054 e escolhendo um número entre 0 e 999. O sorteio será pela loteria federal no dia 26 de janeiro, com os dois números mais próximos recebendo os prêmios. O vencedor ou vencedora receberá a guitarra no palco do TJA, no show do dia 30.
Mobilização em prol de Marcus
A notícia do AVC sofrido por Marcus Dias correu os grupos de whatsapp na noite de Reveillon, enquanto o compositor era internado no Hospital Geral de Fortaleza, mantido pelo Governo do Estado do Ceará. Rapidamente, uma grande rede de apoio a ele e à família foi formada, com diversas ações. Amigas como as jornalistas Ethel de Paula e Silvia Bessa articularam rapidamente uma campanha de arrecadação de recursos, destinados ao tratamento e à manutenção da família de Marcus e de sua companheira, Angela Serpa, pais de duas crianças. Atualmente o compositor está sob tratamento diário no Hospital Sarah, referência nacional e internacional.
Marcus Dias: uma obra intensa e lírica
Marcus Dias escreve canções e realiza shows autorais desde o final dos anos 80, com destaque, a partir dessa época, para as parcerias com Isaac Cândido e Marcílio Homem. Com grande destaque para suas letras que unem intensidade e lirismo, sentimento e originalidade, beleza e ousadia, tem também canções em que é autor tanto da letra quanto da música.
Várias de suas canções foram registradas em dois discos em parceria com Isaac Cândido (“Isaac Cândido”, de 1999, e “Algo Sobre a Distância e o Tempo”, de 2005), além de um disco gravado por Isaac Cândido e Simone Guimarães (“Cândidos”, de 2010) e três discos em parceria com Pantico Rocha, percussionista, violonista, compositor e diretor musical, nacionalmente aclamado por dividir palcos e estúdio com nomes como Lenine e Maria Bethânia, além de desenvolver um trabalho de formação de novos músicos no pré-carnaval e no carnaval de Fortaleza. São eles: “O Barulho do Sol do Meio Dia” (2007), “Nem Samba nem Sandra nem Mar” (2013) e o novo “Tudo que Passa é Permanente”, a ser lançado em breve.
Um escritor de canções
Entre as muitas obras-primas de Marcus Dias e parceiros estão a valsa “Brisa”, parceria com Marcílio Homem, em que o poeta transborda: “Redescobrira o amor e andava meio distraído / Imaginava como podem ser tão desiguais / Enquanto alguns amores são como engarrafamentos nas perimetrais / Outros são como brisa umedecendo as folhas dos canaviais / Amores pouco verdadeiros, amores brigueiros, amores normais / Amores que ninguém descreve, amores de conserva, amores naturais / Se fosse descrever o nosso amor, eu só diria: ele é nada mais do que uma leve brisa sobre o para-brisa dos outros casais”.
O maior sucesso do compositor, porém, é a bem-humorada “Os Bêbados”, gravada por Isaac Cândido, em que um inteligente desfile de proparoxítonas desafia a moral e os bons costumes. Canção muito indicada para esses tempos de neoconservadorismo: “Sábado é o dia dos bêbados e das moças católicas que vão para a missa rezar pra tentar encontrar… algum bêbado”.
Marcus é também um cronista de pegada concreta a retratar sentimentos recônditos no dia-a-dia de quem se acostumou a anestesiar o olhar, diante de um mundo cada vez mais solitário, desigual, desumano. “Sem nome, sem casa, sem rua, sem praça, sem terra, sem mar / Com os olhos de gente vigia a donzela do primeiro andar / De pele macia, como nunca se encontra do lado de lá / Com sede, com fome, com frio, com medo, com cheiro de bar / Confusão na avenida, uma moça agredida e um homem a chorar”, canta em “Descontrole”, parceria com Isaac.
Palavra e sentimento
Mas o lirismo vence a desesperança, como em “Disneylândia (Fantasias)”: Os vagalumes eram magos, eram vigilantes mágicos do palmeiral / As borboletas eram fadas que brincavam pelas tardes do meu quintal / Quem pensaria em solidão? Quem pensaria em solidão? / Eram as flores um presente de algum Deus que olhava a gente contra o mal / E até ficavam mais contentes como as roupas reluzentes no varal / Na ventania um carnaval / Na ventania, como um carnaval / Onde é que a vida virou, que as flores não dançam mais?”
Entre muitas outras canções, estão “Parto”, gravada pela cantora e compositora Aparecida Silvino no LP “Vidro & Aço” (parceria com Marcílio Homem), com produção do compositor Ricardo Augusto; “Transformismo” (com Isaac Cândido), gravada por Isaac no LP “Pessoal do Cais Bar”, de 1994; “Aprendendo a sonhar” e “O samba da hora”, parcerias com Ciribáh Soares, tendo a primeira sido gravada no DVD de Ciribáh, ao vivo no Teatro do Dragão do Mar.
Além de se somar à rede de solidariedade, vale aproveitar o começo de ano para se informar mais sobre as condições de saúde que concorrem para AVCs, procurando se prevenir. Vale também conhecer (e reconhecer) mais a obra de Marcus Dias e parceiros. Nosso angustiado coração neste 2019 que está só começando, merece o alento dessas canções de intensa beleza, como só Marcus sabe, em sua melhor forma de ser e de fazer o outro feliz.